Bem-estar animal

UMA CIÊNCIA EM EVOLUÇÃO

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Bem-Estar de Peixes e Invertebrados Aquáticos

O bem-estar animal é um tema que ganhou espaço ao longo das últimas décadas. Apesar de ter se iniciado com animais de produção e de laboratório, o tema tem ganhado forças para animais silvestres também. Porém, mesmo com essa evolução, mamíferos e aves se mantiveram em destaque nas discussões e, apenas recentemente, que o movimento em prol do bem-estar animal começou a olhar com mais atenção aos peixes e invertebrados.

Hoje já se é comprovado que peixes e alguns grupos de invertebrados são seres sencientes, ou seja, possuem a capacidade de ter percepções individuais de seu próprio estado físico e/ou emocional. Isso provou a necessidade de se ter mais atenção e cuidado com o manejo destes animais. Neste sentido, o Modelo dos Cinco Domínios do Bem-Estar pode ser usado como ponto de partida para realizar um manejo focado no bem-estar.

Este modelo foi desenhado para permitir uma avaliação do bem-estar de forma a englobar os diferentes estados (físico, mental e psicológico), ao mesmo tempo em que incentiva um manejo que promova experiências e emoções positivas. Para isso, são considerados quatro domínios físicos (ambiente, nutrição, saúde e interações comportamentais) e um domínio mental.

Quando falamos de peixes e invertebrados aquáticos, o primeiro (e talvez o mais importante) domínio que devemos nos atentar é o AMBIENTE. Isso porque estes animais utilizam a água não só como meio de se transportar e se alimentar, mas também para realizar as trocas gasosas e absorver nutrientes que se encontram dissolvidos. Porém cada espécie possui uma história natural diferente e, muitas vezes, os indivíduos que habitarão o recinto apresentam particularidades que não podem ser desconsideradas.
Assim, para definir as especificações de um recinto é essencial que se busque conhecer estas particularidades da espécie e do indivíduo para que se defina:

  • O tamanho ideal do recinto;
  • A temperatura ideal (bem como a variação permitida);
  • A iluminação adequada;
  • Os tipos de substrato;
  • Os níveis adequados de qualidade da água (quanto ao pH, salinidade, densidade, oxigênio dissolvido, níveis de amônia e nitrato, entre outros);
  • O tipo de abrigo que deve ser disponibilizado;
  • A compatibilidade com outros indivíduos/espécies para se evitar predação, competição e brigas; entre outros.

É importante lembrar que um desequilíbrio ambiental (em especial quanto à qualidade da água) desencadeará processos internos que afetarão diretamente o comportamento, a saúde, o apetite e o mental dos animais aquáticos, prejudicando assim a sua sobrevivência. Por isso, é essencial que os recintos propiciem condições benignas de conforto e segurança contínuos, assim como diferentes sensações, permitindo que os animais tenham diversas oportunidades e capacidade de escolher microambientes de acordo com preferências próprias.

O domínio NUTRIÇÃO também é bastante importante para peixes e invertebrados aquáticos. Problemas de alimentação inadequada frequentemente levam a más formações em coluna e/ou nadadeira, além de afetar a coloração do animal, o nível de atividade, o ciclo reprodutivo, entre outros. Assim, definir a alimentação adequada com um profissional da área é essencial para que se garanta a saciedade dos animais, bem como uma nutrição adequada considerando todos os requisitos da espécie, do indivíduo e de sua fase de vida.

Após a confirmação da senciência dos peixes e alguns invertebrados, o domínio SAÚDE ganhou ainda mais relevância para este grupo. Assim, não só cuidar de lesões e doenças, mas realizar esforços para minimizar possíveis dores durante este tratamento passa a ser essencial. Outra estratégia de bem-estar do domínio saúde é realizar exames para medicina preventiva que permitam a identificação de problemas de saúde antes mesmo dos sintomas se manifestarem, permitindo assim rápido tratamento e manutenção contínua de níveis elevados de saúde. Ao cuidar da saúde dos animais, influenciamos diretamente na sua robustez, vitalidade e níveis de estresse crônico.

Ao manter um animal em um ambiente adequado, com uma dieta equilibrada e saudável, o mesmo encontra-se apto para desenvolver uma variedade de comportamentos. Por muito tempo se considerou que apenas estes cuidados eram suficientes, pois se acreditava que peixes e invertebrados aquáticos não possuíam uma variedade comportamental grande, sendo muitas vezes animais considerados menos inteligentes. Porém ao estimular o domínio INTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS e estabelecer recintos com animais compatíveis (da mesma espécie e/ou de diferentes espécies), realizar enriquecimentos ambientais apropriados, criar sessões de aprendizado com reforço positivo e até mesmo sessões para criação de vínculo tratador-animal, criamos diferentes oportunidades para que os animais sintam-se motivados a realizar comportamentos naturais diversos.

Se cuidarmos com atenção dos quatro domínios físicos (ambiente, nutrição, saúde e interações comportamentais), possibilitaremos que os animais tenham experiências positivas que resultem em emoções de segurança, conforto, saciedade, vitalidade, sociabilidade, curiosidade, entre outros. Quando cuidamos rotineiramente destes domínios em relação ao estado atual dos animais sob nossos cuidados, conseguimos criar um balanço muito positivo nas experiências dos animais. Essa é a melhor forma de garantir que o domínio MENTAL esteja também atendendo aos níveis ideais de bem-estar.

Assim, apesar de muitas vezes parecer fácil manter animais aquáticos sob cuidados humanos, garantir que estes animais sejam mantidos com níveis altos de bem-estar é um desafio, exige que tenhamos um olhar atencioso e realizemos um trabalho abrangente e complexo. Porém estes cuidados são essenciais se queremos ver animais prosperando e apresentando altos níveis de bem-estar.

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HELEN COLBACHINI

Bióloga Marinha e Gestora Costeira formada pela UNESP. Mestre em Zoologia pela UNESP. Entre 2016 e 2022 atuou como supervisora do Departamento de Bem-Estar Animal, Pesquisa e Conservação do Aquário de São Paulo. Foi membro e Co-Coordinadora do Comité de Acuarios da Asociación Latinoamericana de Zoológicos y Acuarios (ALPZA) de 2019 a 2022. É professora de Pós-Graduação da disciplina de Enriquecimento Ambiental da UNISA desde 2019.

Bem-Estar de Peixes e Invertebrados Aquáticos

O bem-estar animal é um tema que ganhou espaço ao longo das últimas décadas. Apesar de ter se iniciado com animais de produção e de laboratório, o tema tem ganhado forças para animais silvestres também. Porém, mesmo com essa evolução, mamíferos e aves se mantiveram em destaque nas discussões e, apenas recentemente, que o movimento em prol do bem-estar animal começou a olhar com mais atenção aos peixes e invertebrados.

Hoje já se é comprovado que peixes e alguns grupos de invertebrados são seres sencientes, ou seja, possuem a capacidade de ter percepções individuais de seu próprio estado físico e/ou emocional. Isso provou a necessidade de se ter mais atenção e cuidado com o manejo destes animais. Neste sentido, o Modelo dos Cinco Domínios do Bem-Estar pode ser usado como ponto de partida para realizar um manejo focado no bem-estar.

Este modelo foi desenhado para permitir uma avaliação do bem-estar de forma a englobar os diferentes estados (físico, mental e psicológico), ao mesmo tempo em que incentiva um manejo que promova experiências e emoções positivas. Para isso, são considerados quatro domínios físicos (ambiente, nutrição, saúde e interações comportamentais) e um domínio mental.

Quando falamos de peixes e invertebrados aquáticos, o primeiro (e talvez o mais importante) domínio que devemos nos atentar é o AMBIENTE. Isso porque estes animais utilizam a água não só como meio de se transportar e se alimentar, mas também para realizar as trocas gasosas e absorver nutrientes que se encontram dissolvidos. Porém cada espécie possui uma história natural diferente e, muitas vezes, os indivíduos que habitarão o recinto apresentam particularidades que não podem ser desconsideradas.
Assim, para definir as especificações de um recinto é essencial que se busque conhecer estas particularidades da espécie e do indivíduo para que se defina:

  • O tamanho ideal do recinto;
  • A temperatura ideal (bem como a variação permitida);
  • A iluminação adequada;
  • Os tipos de substrato;
  • Os níveis adequados de qualidade da água (quanto ao pH, salinidade, densidade, oxigênio dissolvido, níveis de amônia e nitrato, entre outros);
  • O tipo de abrigo que deve ser disponibilizado;
  • A compatibilidade com outros indivíduos/espécies para se evitar predação, competição e brigas; entre outros.

É importante lembrar que um desequilíbrio ambiental (em especial quanto à qualidade da água) desencadeará processos internos que afetarão diretamente o comportamento, a saúde, o apetite e o mental dos animais aquáticos, prejudicando assim a sua sobrevivência. Por isso, é essencial que os recintos propiciem condições benignas de conforto e segurança contínuos, assim como diferentes sensações, permitindo que os animais tenham diversas oportunidades e capacidade de escolher microambientes de acordo com preferências próprias.

O domínio NUTRIÇÃO também é bastante importante para peixes e invertebrados aquáticos. Problemas de alimentação inadequada frequentemente levam a más formações em coluna e/ou nadadeira, além de afetar a coloração do animal, o nível de atividade, o ciclo reprodutivo, entre outros. Assim, definir a alimentação adequada com um profissional da área é essencial para que se garanta a saciedade dos animais, bem como uma nutrição adequada considerando todos os requisitos da espécie, do indivíduo e de sua fase de vida.

Após a confirmação da senciência dos peixes e alguns invertebrados, o domínio SAÚDE ganhou ainda mais relevância para este grupo. Assim, não só cuidar de lesões e doenças, mas realizar esforços para minimizar possíveis dores durante este tratamento passa a ser essencial. Outra estratégia de bem-estar do domínio saúde é realizar exames para medicina preventiva que permitam a identificação de problemas de saúde antes mesmo dos sintomas se manifestarem, permitindo assim rápido tratamento e manutenção contínua de níveis elevados de saúde. Ao cuidar da saúde dos animais, influenciamos diretamente na sua robustez, vitalidade e níveis de estresse crônico.

Ao manter um animal em um ambiente adequado, com uma dieta equilibrada e saudável, o mesmo encontra-se apto para desenvolver uma variedade de comportamentos. Por muito tempo se considerou que apenas estes cuidados eram suficientes, pois se acreditava que peixes e invertebrados aquáticos não possuíam uma variedade comportamental grande, sendo muitas vezes animais considerados menos inteligentes. Porém ao estimular o domínio INTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS e estabelecer recintos com animais compatíveis (da mesma espécie e/ou de diferentes espécies), realizar enriquecimentos ambientais apropriados, criar sessões de aprendizado com reforço positivo e até mesmo sessões para criação de vínculo tratador-animal, criamos diferentes oportunidades para que os animais sintam-se motivados a realizar comportamentos naturais diversos.

Se cuidarmos com atenção dos quatro domínios físicos (ambiente, nutrição, saúde e interações comportamentais), possibilitaremos que os animais tenham experiências positivas que resultem em emoções de segurança, conforto, saciedade, vitalidade, sociabilidade, curiosidade, entre outros. Quando cuidamos rotineiramente destes domínios em relação ao estado atual dos animais sob nossos cuidados, conseguimos criar um balanço muito positivo nas experiências dos animais. Essa é a melhor forma de garantir que o domínio MENTAL esteja também atendendo aos níveis ideais de bem-estar.

Assim, apesar de muitas vezes parecer fácil manter animais aquáticos sob cuidados humanos, garantir que estes animais sejam mantidos com níveis altos de bem-estar é um desafio, exige que tenhamos um olhar atencioso e realizemos um trabalho abrangente e complexo. Porém estes cuidados são essenciais se queremos ver animais prosperando e apresentando altos níveis de bem-estar.

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HELEN COLBACHINI

Bióloga Marinha e Gestora Costeira formada pela UNESP. Mestre em Zoologia pela UNESP. Entre 2016 e 2022 atuou como supervisora do Departamento de Bem-Estar Animal, Pesquisa e Conservação do Aquário de São Paulo. Foi membro e Co-Coordinadora do Comité de Acuarios da Asociación Latinoamericana de Zoológicos y Acuarios (ALPZA) de 2019 a 2022. É professora de Pós-Graduação da disciplina de Enriquecimento Ambiental da UNISA desde 2019.