Bem-estar animal

UMA CIÊNCIA EM EVOLUÇÃO

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Bem-Estar das Famílias Multiespécies

A nossa relação com os cães e gatos vem mudando rapidamente, hoje eles fazem parte da nossa família, que passa a se chamar família multiespécie. Dividimos nossa casa, nossa cama, nosso sofá, nossas atividades… Acompanham de perto o crescimento das crianças e o nosso envelhecimento, sendo uma fonte de apoio emocional e social para todos nós.

O conceito de família foi, por muitos anos, restrito a laços biológicos que uniam pessoas. No entanto, no mundo atual, a família mudou.  Ultrapassando os vínculos biológicos, e considerando também aspectos culturais e sociais, que incluem a afetividade. Sim, é o afeto e o amor que unem a família multiespécie. É importante salientar que a manutenção deste laço requer responsabilidade e consideração.

Uma família multiespécie precisa ter um forte vínculo humano-animal para beneficiar mutuamente humanos e pets, incluindo a expressão de comportamentos essenciais à saúde e bem-estar de ambos, além, é claro, das atividades compartilhadas.

A família deve, portanto, estar unida para manter a coesão e dar suporte mutuamente, para desenvolver o potencial de cada um de seus membros. Dessa forma, ao incluirmos os animais de estimação nesse ambiente afetivo, precisamos modificar as nossas atitudes, considerando as suas necessidades, considerando sua espécie e reconhecendo nossa responsabilidade perante eles, uma vez que dependerão de nós até o final dos seus dias.

Em um ambiente de convivência tão próxima, também são esperados conflitos. Sendo assim, procure sempre compreender a motivação para o comportamento do seu pet e não hesite em procurar ajuda profissional para resolver os mais complexos.

Precisamos perceber que nossos familiares pets necessitam de mais do que comida de qualidade, cama confortável e cuidados médicos. Eles necessitam de sociabilização, ou seja, aprender a lidar com os desafios do cotidiano que enfrentarão durante toda vida e nós, somos os responsáveis em promover isso a eles, desde o início da relação. Também necessitam de companhia, atenção, amor e respeito. 

Eles têm necessidades cognitivas e físicas que precisam ser atendidas segundo a sua espécie. Por exemplo, os cães por serem animais gregários e sociais precisam de companhia, não sendo recomendado que passem mais do que 8 horas sozinhos (ideal até 6 horas). Já os felinos, necessitam de brinquedos que estimulem a predação, como varinhas, por exemplo. Os gatos e os cães devem ser estimulados por jogos e atividades que sejam estruturadas, consistentes e previsíveis, da mesma forma que fazemos com as crianças.

Outro aspeto crucial a ser considerado são os fatores ligados à individualidade, ou seja, cada animal tem uma personalidade única, formada conforme os seus genes, suas primeiras experiências na infância e o ambiente onde se desenvolveu. Essas diferenças não se limitam à personalidade, mas também estão relacionadas às capacidades cognitivas e de exploração. Dessa forma, teremos, por exemplo, personalidades mais medrosas, que podem necessitar de mais tempo para confiar e sociabilizar com outros animais.

Para proporcionar bem-estar aos nossos pets, é importante salientar que espécies diferentes terão relações diferentes com o meio em que vivem, pois o sistema sensorial (tato, olfato, visão, audição e paladar) difere em cada espécie. Dessa forma, cães e gatos, provavelmente, são muito mais olfativos que nós humanos (sim, para descrever humanos, eles o fariam pelo olfato e não pelo visual) Essas diferenças na percepção do mundo, exigem uma atitude proativa para compreender como eles percebem esse mundo e cada uma das experiências de vida. Dessa forma, quando o seu cão ou gato estiver com medo da chuva, tente compreender que eles têm uma percepção diferente. O som chega com uma maior intensidade, os odores que acompanham as tempestades, as mudanças na luminosidade e procure oferecer espaços seguros na perspectiva dele (o colo, que, na nossa espécie, pode ser consolador, de forma geral deixa os animais ainda mais inseguros).

Quando incorporamos um novo membro da família, precisamos adaptar as regras e rotinas para que todos tenham o seu espaço. As decisões agora devem considerar as necessidades de TODA a família, todos precisam ceder. Assim, para de fato ser uma família multiespécie, é preciso ocorrer interações próximas, cuidado, respeito e compromisso com TODOS os seus membros.

PARA UMA FAMÍLIA MULTIESPÉCIE FELIZ ACONTECER:

  • Ter um animal não é o suficiente para ser uma família, precisamos ter quantidade e qualidade de tempo compartilhados para isso ocorrer.
  • Compreenda as necessidades físicas e cognitivas de seu animal de estimação. Cada um dos seus pets pode ter preferências diferentes. Ofereça sempre novos brinquedos, com supervisão e observe as preferências do seu cão ou gato.
  • Respeite as emoções do seu animal de estimação: se ele demonstrar que não aprecia algo, respeite (carinho é um clássico, normalmente nós humanos exageramos aqui). Se ele demonstrar medo, não insista.
  • Promova as atividades necessárias para satisfazer a cognição e o físico do seu pet, implementando isso gradativamente, mas sendo consistente e previsível (funciona como o exercício físico para nós: os resultados só vêm com tempo e dedicação e não devemos começar com uma carga pesada).
  • Reserve um tempo no seu dia para interagir com seu pet, em uma atividade que seja prazerosa para você, mas também para ele: vale passeio, carinho físico (se ele gostar), brincadeiras, com bolinha ou varinha, etc. Só não vale “furar” com ele.
  • Para manter a relação com o animal de estimação mais equilibrada, procure usar uma linguagem corporal relaxada, voz suave e agir conforme as necessidades dele, incluindo na rotina sessões de brincadeira, escovação e relaxamento diários.

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Juliana Cannavan Gil

Médica Veterinária formada pela UNIP/SP e Cientista Social formada pela PUC/SP. Mestrado em Etologia e Bem-Estar Animal (Universidade de Zaragoza – Espanha). Pós-graduada em Etologia Clínica (Qualittas). Possui Certificação Avançada em Comportamento Felino pela ISFM (International Society Feline Medicine). Pós-graduada em Neurociências e Comportamento (PUC-RS). Co-fundadora Psicovet Centro e atua no atendimento veterinário comportamental de cães e gatos, desde 2014.

Bem-Estar das Famílias Multiespécies

A nossa relação com os cães e gatos vem mudando rapidamente, hoje eles fazem parte da nossa família, que passa a se chamar família multiespécie. Dividimos nossa casa, nossa cama, nosso sofá, nossas atividades… Acompanham de perto o crescimento das crianças e o nosso envelhecimento, sendo uma fonte de apoio emocional e social para todos nós.

O conceito de família foi, por muitos anos, restrito a laços biológicos que uniam pessoas. No entanto, no mundo atual, a família mudou.  Ultrapassando os vínculos biológicos, e considerando também aspectos culturais e sociais, que incluem a afetividade. Sim, é o afeto e o amor que unem a família multiespécie. É importante salientar que a manutenção deste laço requer responsabilidade e consideração.

Uma família multiespécie precisa ter um forte vínculo humano-animal para beneficiar mutuamente humanos e pets, incluindo a expressão de comportamentos essenciais à saúde e bem-estar de ambos, além, é claro, das atividades compartilhadas.

A família deve, portanto, estar unida para manter a coesão e dar suporte mutuamente, para desenvolver o potencial de cada um de seus membros. Dessa forma, ao incluirmos os animais de estimação nesse ambiente afetivo, precisamos modificar as nossas atitudes, considerando as suas necessidades, considerando sua espécie e reconhecendo nossa responsabilidade perante eles, uma vez que dependerão de nós até o final dos seus dias.

Em um ambiente de convivência tão próxima, também são esperados conflitos. Sendo assim, procure sempre compreender a motivação para o comportamento do seu pet e não hesite em procurar ajuda profissional para resolver os mais complexos.

Precisamos perceber que nossos familiares pets necessitam de mais do que comida de qualidade, cama confortável e cuidados médicos. Eles necessitam de sociabilização, ou seja, aprender a lidar com os desafios do cotidiano que enfrentarão durante toda vida e nós, somos os responsáveis em promover isso a eles, desde o início da relação. Também necessitam de companhia, atenção, amor e respeito. 

Eles têm necessidades cognitivas e físicas que precisam ser atendidas segundo a sua espécie. Por exemplo, os cães por serem animais gregários e sociais precisam de companhia, não sendo recomendado que passem mais do que 8 horas sozinhos (ideal até 6 horas). Já os felinos, necessitam de brinquedos que estimulem a predação, como varinhas, por exemplo. Os gatos e os cães devem ser estimulados por jogos e atividades que sejam estruturadas, consistentes e previsíveis, da mesma forma que fazemos com as crianças.

Outro aspeto crucial a ser considerado são os fatores ligados à individualidade, ou seja, cada animal tem uma personalidade única, formada conforme os seus genes, suas primeiras experiências na infância e o ambiente onde se desenvolveu. Essas diferenças não se limitam à personalidade, mas também estão relacionadas às capacidades cognitivas e de exploração. Dessa forma, teremos, por exemplo, personalidades mais medrosas, que podem necessitar de mais tempo para confiar e sociabilizar com outros animais.

Para proporcionar bem-estar aos nossos pets, é importante salientar que espécies diferentes terão relações diferentes com o meio em que vivem, pois o sistema sensorial (tato, olfato, visão, audição e paladar) difere em cada espécie. Dessa forma, cães e gatos, provavelmente, são muito mais olfativos que nós humanos (sim, para descrever humanos, eles o fariam pelo olfato e não pelo visual) Essas diferenças na percepção do mundo, exigem uma atitude proativa para compreender como eles percebem esse mundo e cada uma das experiências de vida. Dessa forma, quando o seu cão ou gato estiver com medo da chuva, tente compreender que eles têm uma percepção diferente. O som chega com uma maior intensidade, os odores que acompanham as tempestades, as mudanças na luminosidade e procure oferecer espaços seguros na perspectiva dele (o colo, que, na nossa espécie, pode ser consolador, de forma geral deixa os animais ainda mais inseguros).

Quando incorporamos um novo membro da família, precisamos adaptar as regras e rotinas para que todos tenham o seu espaço. As decisões agora devem considerar as necessidades de TODA a família, todos precisam ceder. Assim, para de fato ser uma família multiespécie, é preciso ocorrer interações próximas, cuidado, respeito e compromisso com TODOS os seus membros.

PARA UMA FAMÍLIA MULTIESPÉCIE FELIZ ACONTECER:

  • Ter um animal não é o suficiente para ser uma família, precisamos ter quantidade e qualidade de tempo compartilhados para isso ocorrer.
  • Compreenda as necessidades físicas e cognitivas de seu animal de estimação. Cada um dos seus pets pode ter preferências diferentes. Ofereça sempre novos brinquedos, com supervisão e observe as preferências do seu cão ou gato.
  • Respeite as emoções do seu animal de estimação: se ele demonstrar que não aprecia algo, respeite (carinho é um clássico, normalmente nós humanos exageramos aqui). Se ele demonstrar medo, não insista.
  • Promova as atividades necessárias para satisfazer a cognição e o físico do seu pet, implementando isso gradativamente, mas sendo consistente e previsível (funciona como o exercício físico para nós: os resultados só vêm com tempo e dedicação e não devemos começar com uma carga pesada).
  • Reserve um tempo no seu dia para interagir com seu pet, em uma atividade que seja prazerosa para você, mas também para ele: vale passeio, carinho físico (se ele gostar), brincadeiras, com bolinha ou varinha, etc. Só não vale “furar” com ele.
  • Para manter a relação com o animal de estimação mais equilibrada, procure usar uma linguagem corporal relaxada, voz suave e agir conforme as necessidades dele, incluindo na rotina sessões de brincadeira, escovação e relaxamento diários.

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Juliana Cannavan Gil

Médica Veterinária formada pela UNIP/SP e Cientista Social formada pela PUC/SP. Mestrado em Etologia e Bem-Estar Animal (Universidade de Zaragoza – Espanha). Pós-graduada em Etologia Clínica (Qualittas). Possui Certificação Avançada em Comportamento Felino pela ISFM (International Society Feline Medicine). Pós-graduada em Neurociências e Comportamento (PUC-RS). Co-fundadora Psicovet Centro e atua no atendimento veterinário comportamental de cães e gatos, desde 2014.