Bem-estar de gatos
A relação dos felinos e pessoas começou cerca de 10.000 anos atrás. Mas, faz poucas décadas que os gatos vêm se tornando populares como animais de companhia. Atualmente, essa posição já está consolidada em pelo menos 91 países que são oficialmente denominados como cat lovers. Nessa trajetória, os gatos deixaram de ser os caçadores de ratos que viviam nos ambientes externos às moradias, para ocuparem as nossas casas e os nossos corações.
A maioria dos tutores de gatos, os considera como um membro da família. No entanto, muitas vezes há pouca compreensão sobre a sua natureza e o que necessitam para manter saúde física e mental. Essa constatação causa estranhamento, uma vez que nos dias de hoje, existem muitas informações disponíveis sobre como lidar melhor com essa espécie e como fortalecer positivamente a relação com eles.
Um aspecto evolutivo que merece destaque é o fato de que eles retêm muitos comportamentos de seus predecessores selvagens. Ou seja, são carnívoros com sentidos aguçados para a caça e preparados biologicamente para perceber e evitar perigos potenciais. Assim, possuem uma maior capacidade de resposta tipo luta ou fuga.
Por isso, necessitam acesso a lugares elevados que os permitam vigiar o ambiente com segurança e esconderijos para quando se sentem vulneráveis. Além disso, há um imperativo biológico para exercer o comportamento de caça, mesmo em um ambiente fechado como o apartamento. Essa necessidade, demanda dos tutores oferecerem brinquedos e atividades que mimetizem a busca por uma presa. Desta maneira, o gato poderá expressar seu comportamento de caçador solitário
Cabe destacar ainda, o reconhecimento sobre a complexa estrutura social destes felinos, que difere significativamente das estruturas dos humanos e dos caninos. Sabemos que quando há recursos alimentares suficientes, os gatos em vida livre optam por viver em grupos sociais, denominados como colônias. Esta organização social tem como núcleo central as fêmeas que cuidam cooperativamente dos filhotes. E, nessa situação, os comportamentos agressivos são geralmente direcionados para gatos não familiares, aqueles que são estranhos a colônia.
Dentro do grupo familiar formado, eles escolhem seus parceiros para trocas afetivas e cuidados mútuos.
Este padrão de comportamento social, nos faz entender o motivo da problemática na inserção de gatos adultos em locais onde já existem gatos residentes. Para tanto, são necessárias estratégias, conhecimento e tolerância para que não se instale um conflito social que poderá ser permanente e comprometer o bem-estar e a saúde destes animais e das pessoas envolvidas.
Neste sentido, precisamos ficar atentos aos comportamentos de conforto que cada gato expressa, pois são os indicadores de saúde psicológica. A manifestação desses sinais no ambiente humano no qual estão inseridos, é sinal de bem-estar felino. Por outro lado, quando estão ausentes ou são excessivos indicam a existência potencial de problemas.
O que se entende por comportamento de conforto e quais são eles? São os que melhoram o bem-estar corporal e que reduzem as tensões internas, o estresse que o gato possa estar sentindo.
São considerados sinais de conforto os seguintes comportamentos:
- Lambedura, higiene e cuidados com a pelagem
- Limpeza e afiação das unhas
- Fricção do dorso contra o solo
- Alongamento
- Bocejo
- Ronronar
Vários outros comportamentos envolvem a redução de tensões internas, por exemplo o ato de comer que sacia a fome. Porém, os que são denominados de conforto são comportamentos específicos para a manutenção da pelagem, musculatura, estética e os de prazer como a massagem do roçar e os banhos de sol.
Se o gato modifica estes comportamentos em intensidade ou frequência, há necessidade de verificar se é um alerta de que sua saúde física ou psicológica possa estar afetada. Neste caso, é preciso intervir e descartar alguma patologia psicológica como a ansiedade ou as físicas como a dor.
Por fim, com base na compreensão de que a percepção de mundo dos gatos é essencialmente baseada em seu sistema sensorial aguçado, devemos oferecer um ambiente e manejo o mais amigável para eles. Com este cuidado, é possível reduzir ou prevenir condições de vida precárias, inadequadas e estressoras.
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Ceres Berger Faraco
Médica Veterinária UFRGS. Mestrado em Psicologia PUC/RS. Doutorado em Psicologia PUC/RS e Universidade de Valencia UV, Espanha. Diretora da Especialização em Comportamento Animal do Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA/Univ. Tuiuti) e do Mestrado em Terapia Assistida por Animais UV/Espanha. Mentora em Interação Humano-Animal da American Psychological Association. Atendimento Clínico de Comportamento dos cães e gatos.
Bem-estar de gatos
A relação dos felinos e pessoas começou cerca de 10.000 anos atrás. Mas, faz poucas décadas que os gatos vêm se tornando populares como animais de companhia. Atualmente, essa posição já está consolidada em pelo menos 91 países que são oficialmente denominados como cat lovers. Nessa trajetória, os gatos deixaram de ser os caçadores de ratos que viviam nos ambientes externos às moradias, para ocuparem as nossas casas e os nossos corações.
A maioria dos tutores de gatos, os considera como um membro da família. No entanto, muitas vezes há pouca compreensão sobre a sua natureza e o que necessitam para manter saúde física e mental. Essa constatação causa estranhamento, uma vez que nos dias de hoje, existem muitas informações disponíveis sobre como lidar melhor com essa espécie e como fortalecer positivamente a relação com eles.
Um aspecto evolutivo que merece destaque é o fato de que eles retêm muitos comportamentos de seus predecessores selvagens. Ou seja, são carnívoros com sentidos aguçados para a caça e preparados biologicamente para perceber e evitar perigos potenciais. Assim, possuem uma maior capacidade de resposta tipo luta ou fuga.
Por isso, necessitam acesso a lugares elevados que os permitam vigiar o ambiente com segurança e esconderijos para quando se sentem vulneráveis. Além disso, há um imperativo biológico para exercer o comportamento de caça, mesmo em um ambiente fechado como o apartamento. Essa necessidade, demanda dos tutores oferecerem brinquedos e atividades que mimetizem a busca por uma presa. Desta maneira, o gato poderá expressar seu comportamento de caçador solitário
Cabe destacar ainda, o reconhecimento sobre a complexa estrutura social destes felinos, que difere significativamente das estruturas dos humanos e dos caninos. Sabemos que quando há recursos alimentares suficientes, os gatos em vida livre optam por viver em grupos sociais, denominados como colônias. Esta organização social tem como núcleo central as fêmeas que cuidam cooperativamente dos filhotes. E, nessa situação, os comportamentos agressivos são geralmente direcionados para gatos não familiares, aqueles que são estranhos a colônia.
Dentro do grupo familiar formado, eles escolhem seus parceiros para trocas afetivas e cuidados mútuos.
Este padrão de comportamento social, nos faz entender o motivo da problemática na inserção de gatos adultos em locais onde já existem gatos residentes. Para tanto, são necessárias estratégias, conhecimento e tolerância para que não se instale um conflito social que poderá ser permanente e comprometer o bem-estar e a saúde destes animais e das pessoas envolvidas.
Neste sentido, precisamos ficar atentos aos comportamentos de conforto que cada gato expressa, pois são os indicadores de saúde psicológica. A manifestação desses sinais no ambiente humano no qual estão inseridos, é sinal de bem-estar felino. Por outro lado, quando estão ausentes ou são excessivos indicam a existência potencial de problemas.
O que se entende por comportamento de conforto e quais são eles? São os que melhoram o bem-estar corporal e que reduzem as tensões internas, o estresse que o gato possa estar sentindo.
São considerados sinais de conforto os seguintes comportamentos:
- Lambedura, higiene e cuidados com a pelagem
- Limpeza e afiação das unhas
- Fricção do dorso contra o solo
- Alongamento
- Bocejo
- Ronronar
Vários outros comportamentos envolvem a redução de tensões internas, por exemplo o ato de comer que sacia a fome. Porém, os que são denominados de conforto são comportamentos específicos para a manutenção da pelagem, musculatura, estética e os de prazer como a massagem do roçar e os banhos de sol.
Se o gato modifica estes comportamentos em intensidade ou frequência, há necessidade de verificar se é um alerta de que sua saúde física ou psicológica possa estar afetada. Neste caso, é preciso intervir e descartar alguma patologia psicológica como a ansiedade ou as físicas como a dor.
Por fim, com base na compreensão de que a percepção de mundo dos gatos é essencialmente baseada em seu sistema sensorial aguçado, devemos oferecer um ambiente e manejo o mais amigável para eles. Com este cuidado, é possível reduzir ou prevenir condições de vida precárias, inadequadas e estressoras.
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Ceres Berger Faraco
Graduação em Medicina Veterinária pela UFRGS. Mestrado em Psicologia PUC/RS. Doutorado em Psicologia PUC/RS e Universidade de Valencia, Espanha. Diplomada pelo Colégio Latino-americano de Etologia Veterinária. Vice-presidente da Associação Brasileira de Bem-estar Animal. Atendimento Clínico de Comportamento dos cães e gatos. Diretora científica e Professora do Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA).