Bem-estar de Cães de Abrigo
O cenário brasileiro em relação ao abandono de cães e gatos é muito triste, temos em torno de 170 mil animais em diversos abrigos e ONGs (organização não governamental) espalhados por todo Brasil. Alguns acolhem de 10 a 100 animais, entre cães e gatos, outros acolhem mais de 500 animais, demonstrando a situação de superlotação nesses abrigos e a dura realidade que vivem esses cães e gatos com o bem-estar totalmente comprometido.
A ideia de abrigos no Brasil é de um local permanente onde todos os cães e gatos, sem lares e abandonados, são levados, o que é um equívoco muito grande, pois abrigos devem ser considerado sempre como um lugar transitório, onde os cães e gatos apenas passariam para se recuperarem e seriam devolvidos para a sociedade. O correto de todo abrigo é aplicar os 4Rs: resgate seletivo, recuperação, ressocialização e reintrodução na sociedade.
Para a ressocialização e reintrodução na sociedade, esses animais precisam ser preparados, e é aí que o enriquecimento ambiental (EA) entra nos abrigos como uma ferramenta na promoção do bem-estar. Proporcionar bem-estar para cães de abrigo pode ser desafiador pela realidade de acolhimento destes locais, visto que estão sempre superlotados e com baias abrigando de 5 a 6 cães de uma vez só. A colocação de itens de enriquecimento não é tão simples quanto parece, pois é preciso considerar vários fatores, como por exemplo, a possibilidade de brigas e disputas, particularidades individuais, para não comprometer o bem-estar dos animais.
Os cães de abrigos são seres sencientes e sociais e têm necessidades importantes para manter o seu nível de bem-estar elevado, como socialização, atividades rotineiras, interação com humanos, experimentar texturas novas e novos cheiros e muito mais. Para proporcionar tudo isso é importante que os abrigos incluam atividades diárias de enriquecimento ambiental no seu planejamento de cuidados com os animais, para que eles possam ir para os lares permanentes desfrutando de uma boa saúde física e mental.
O manejo do bem-estar com o uso de enriquecimento ambiental propicia estímulos, exercícios e tempo gasto de forma entretida, que será fundamental para minimizar o estresse e reduzir os comportamentos indesejados. Um protocolo de manejo que associe os enriquecimentos ambientais com a interação humano-cão traz para o abrigo uma riqueza de estímulos na forma de cores, atividades, descobertas, curiosidades, que são elementos essenciais para o desenvolvimento do estado físico e mental de cães à espera de um lar.
É muito importante que os cães de abrigo tenham contato físico com os humanos de uma forma mais intensa e não somente quando os colaboradores e voluntários estão nas baias fazendo a higienização necessária do dia a dia.
Para que essa interação seja mais efetiva ao bem-estar dos animais a proposta é que se faça fora das baias, em uma área aberta, com um cão por vez e que tenha duração de pelo menos 10 minutos. Durante esses 10 minutos é fundamental deixar o cão cheirar todo ambiente e proporcionar a ele vários tipos de brinquedos, com formas, texturas, cores e odores diferentes, deixando-o à vontade para ter opções de escolha quanto ao tipo e o tempo de interação.
Nas sessões de interação é importante o humano acariciá-lo, pois o carinho também é uma forma de enriquecimento que proporciona mais confiança e segurança ao animal. A proximidade com humanos é uma medida do grau de sociabilidade nos cães, e quanto mais os cães demonstram essa proximidade, ou seja, quanto mais ele apresenta esse comportamento, maior é a indicação de uma adoção bem-sucedida.
Promover manejos voltados ao bem-estar dos animais em abrigos é uma forma efetiva de trabalhar uma melhor qualidade de vida para esses animais confinados. Aplicar técnicas de enriquecimento ambiental é uma forma de carinho e esse carinho é de mão dupla; quando você dá carinho para um cão ou para um gato é você quem estará recebendo esse carinho de volta. Abrigos que têm essas boas práticas, terão menos estresse nos animais e nos seus colaboradores e voluntários. Trabalhar pelo bem de todos, em forma de bem-estar único é o que queremos!
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Ana Lucia Baldan
Lu Baldan é graduada em Ciências Biológicas e em Medicina Veterinária. Possui Docência em Bem-Estar Animal pela World Protection Animal (WAP). É Mestra em Ciências pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) no Programa Psicobiologia no Laboratório de Etologia e Bioacústica (EBAC). Integra o grupo Antrozoousp, uma rede acadêmica internacional de pesquisa e divulgação científica na relação humano-animal. Atualmente é doutoranda pelo Programa de Pós-graduação de Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com ênfase em Medicina Comportamental de Abrigos.
Bem-estar de Cães de Abrigo
O cenário brasileiro em relação ao abandono de cães e gatos é muito triste, temos em torno de 170 mil animais em diversos abrigos e ONGs (organização não governamental) espalhados por todo Brasil. Alguns acolhem de 10 a 100 animais, entre cães e gatos, outros acolhem mais de 500 animais, demonstrando a situação de superlotação nesses abrigos e a dura realidade que vivem esses cães e gatos com o bem-estar totalmente comprometido.
A ideia de abrigos no Brasil é de um local permanente onde todos os cães e gatos, sem lares e abandonados, são levados, o que é um equívoco muito grande, pois abrigos devem ser considerado sempre como um lugar transitório, onde os cães e gatos apenas passariam para se recuperarem e seriam devolvidos para a sociedade. O correto de todo abrigo é aplicar os 4Rs: resgate seletivo, recuperação, ressocialização e reintrodução na sociedade.
Para a ressocialização e reintrodução na sociedade, esses animais precisam ser preparados, e é aí que o enriquecimento ambiental (EA) entra nos abrigos como uma ferramenta na promoção do bem-estar. Proporcionar bem-estar para cães de abrigo pode ser desafiador pela realidade de acolhimento destes locais, visto que estão sempre superlotados e com baias abrigando de 5 a 6 cães de uma vez só. A colocação de itens de enriquecimento não é tão simples quanto parece, pois é preciso considerar vários fatores, como por exemplo, a possibilidade de brigas e disputas, particularidades individuais, para não comprometer o bem-estar dos animais.
Os cães de abrigos são seres sencientes e sociais e têm necessidades importantes para manter o seu nível de bem-estar elevado, como socialização, atividades rotineiras, interação com humanos, experimentar texturas novas e novos cheiros e muito mais. Para proporcionar tudo isso é importante que os abrigos incluam atividades diárias de enriquecimento ambiental no seu planejamento de cuidados com os animais, para que eles possam ir para os lares permanentes desfrutando de uma boa saúde física e mental.
O manejo do bem-estar com o uso de enriquecimento ambiental propicia estímulos, exercícios e tempo gasto de forma entretida, que será fundamental para minimizar o estresse e reduzir os comportamentos indesejados. Um protocolo de manejo que associe os enriquecimentos ambientais com a interação humano-cão traz para o abrigo uma riqueza de estímulos na forma de cores, atividades, descobertas, curiosidades, que são elementos essenciais para o desenvolvimento do estado físico e mental de cães à espera de um lar.
É muito importante que os cães de abrigo tenham contato físico com os humanos de uma forma mais intensa e não somente quando os colaboradores e voluntários estão nas baias fazendo a higienização necessária do dia a dia.
Para que essa interação seja mais efetiva ao bem-estar dos animais a proposta é que se faça fora das baias, em uma área aberta, com um cão por vez e que tenha duração de pelo menos 10 minutos. Durante esses 10 minutos é fundamental deixar o cão cheirar todo ambiente e proporcionar a ele vários tipos de brinquedos, com formas, texturas, cores e odores diferentes, deixando-o à vontade para ter opções de escolha quanto ao tipo e o tempo de interação.
Nas sessões de interação é importante o humano acariciá-lo, pois o carinho também é uma forma de enriquecimento que proporciona mais confiança e segurança ao animal. A proximidade com humanos é uma medida do grau de sociabilidade nos cães, e quanto mais os cães demonstram essa proximidade, ou seja, quanto mais ele apresenta esse comportamento, maior é a indicação de uma adoção bem-sucedida.
Promover manejos voltados ao bem-estar dos animais em abrigos é uma forma efetiva de trabalhar uma melhor qualidade de vida para esses animais confinados. Aplicar técnicas de enriquecimento ambiental é uma forma de carinho e esse carinho é de mão dupla; quando você dá carinho para um cão ou para um gato é você quem estará recebendo esse carinho de volta. Abrigos que têm essas boas práticas, terão menos estresse nos animais e nos seus colaboradores e voluntários. Trabalhar pelo bem de todos, em forma de bem-estar único é o que queremos!
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Ana Lucia Baldan
Lu Baldan é graduada em Ciências Biológicas e em Medicina Veterinária. Possui Docência em Bem-Estar Animal pela World Protection Animal (WAP). É Mestra em Ciências pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) no Programa Psicobiologia no Laboratório de Etologia e Bioacústica (EBAC). Integra o grupo Antrozoousp, uma rede acadêmica internacional de pesquisa e divulgação científica na relação humano-animal. Atualmente é doutoranda pelo Programa de Pós-graduação de Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) com ênfase em Medicina Comportamental de Abrigos.