Bem-Estar de Cães
Durante muitos anos, acreditava-se que para nossos cães viverem uma vida boa, usufruindo de bem-estar, bastava que fossem alimentados, protegidos e amados pelos humanos.
Por este motivo, o termo e as pesquisas sobre bem-estar eram mais utilizados quando se tratava de animais de laboratório ou que viviam em abrigos, sem receber tanto carinho e atenção quanto os cães de família.
Acreditamos que todos que convivem com cães desejam o melhor para eles, mas infelizmente esta não é a realidade da maioria dos animais. Reconhecer que atualmente formamos uma família multiespécie é o primeiro passo para entender que os cães precisam de adaptações nas nossas casas, rotinas e vidas. O fato de amarmos os cães como membros da família não pode ser confundido com a forma que lidamos com eles. Apesar de ocuparem um lugar parecido com o dos nossos filhos, cães são de outra espécie e por isso suas características e necessidades são diferentes das nossas.
Vamos pensar nesta situação: nós fazemos de tudo para deixar nossos filhos humanos limpos, cheirosos e protegidos, mas sabemos que cães detestam perfumes, excesso de banhos e que eles precisam explorar o ambiente para serem felizes. Considerando que esta exploração envolve farejar o chão, lamber urina de outros animais e até rolar na lama, muitos humanos impedem que seus cães apresentem estes comportamentos.
E é neste ponto que começamos a observar alguns problemas na forma de lidar. Conhecer e reconhecer que, por serem de uma espécie diferente da nossa, cães precisam de um estilo de vida adequado as suas necessidades é a melhor forma de compreendê-los e oferecer uma vida com bem-estar positivo.
Os sentidos dos cães, por exemplo, são MUITO diferentes dos nossos. Nós humanos, enxergamos o mundo com os olhos, já os cães, através do focinho, com seu super olfato. Uma casa muito limpa e perfumada, assim como perfumar o próprio corpo do cachorro pode interferir negativamente na forma que ele percebe e interage com o ambiente.
Além das necessidades básicas de saúde, nutrição, viver em um ambiente adequado e a possibilidade de expressar os comportamentos naturais da espécie (como cavar e roer, por exemplo), os animais também precisam experimentar emoções e sentimentos positivos e prazerosos para que possam viver em condição de bem-estar.
Para que eles sintam estas emoções, nós devemos lidar e nos comunicar com eles de forma respeitosa e empática. Durante muitos anos os cães foram tratados com truculência, sendo repreendidos quando exerciam algum comportamento indesejado, como roubar alimento da bancada da pia, por exemplo. Infelizmente esta era a maneira que (quase) todos os humanos usavam: dar uma bronca, colocar o cão de castigo ou até mesmo usar punição física. Atualmente sabemos que as técnicas punitivas não devem ser utilizadas porque, por mais que possam trazer algum resultado, tendem a causar danos emocionais graves nos animais.
Um cão se interessar por um alimento cheiroso na pia é absolutamente normal, nada mais natural do que ele tentar alcançar para comer. Quando entendemos esta situação pelo ponto de vista dele, fica claro que o animal não deve ser punido, nós é que devemos tomar cuidado e não deixar o alimento disponível. Assim como também devemos ensinar comportamentos alternativos (através de treinos divertidos) para redirecionarmos a atenção deles. Um exemplo é acostumar o cão a se alimentar através de desafios, como brinquedos recheáveis com alimentos especiais. Quando precisarmos redirigir sua atenção, oferecemos o brinquedo para que o cão fique focado, interessado. Dessa maneira ele fica satisfeito e não insiste em roubar nosso alimento.
Não é fácil avaliar de maneira objetiva as emoções que os animais vivenciam, afinal eles não se comunicam conosco na mesma língua que compreendemos.
Por este mesmo motivo, é um desafio definir se um animal está vivendo com uma boa qualidade de vida. Exigir que nossos cães enfrentem situações para as quais não foram preparados, como por exemplo conviver com outros animais, barulhos ou até mesmo com crianças pequenas, pode ser extremamente estressante e desafiador para eles. Cada família tem uma maneira de conviver com os animais, algumas mais inclusivas, outras menos.
É nosso papel, dos amantes dos cães, prepará-los para o estilo de vida que nós vamos oferecer para eles. Somos nós os responsáveis pela vida deles e devemos sempre nos esforçar para entender e respeitar suas características e limitações para que eles possam desfrutar de uma vida segura, saudável e de bem-estar.
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Rita Ericson
Médica-veterinária pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalha como clínica e comportamentalista de cães e gatos. Já trabalhou na SUIPA, no Hospital Veterinário Municipal Jorge Vaitsman e na VetClinic (Gávea – RJ). Mestrado em comportamento animal pela UFRRJ com a tese sobre “Agressividade Canina”. Autora do site www.bichosaudavel.com. Apresenta boletins diários sobre saúde e comportamento de cães e gatos na Rádio JB FM (RJ). Consultora do Programa “Encontro com Fátima Bernardes”, desde 2014. Desenvolveu uma websérie para o GShow, com 19 episódios sobre cães e gatos. Autora dos livros “Latidos de Sabedoria” e “Miados de Sabedoria”. Pós-graduação em Etologia Clínica (Qualittas). Consultora da Unilever no desenvolvimento da linha Cafuné. Membro e fundadora do grupo TanatoVet. Certificada no Programa Fear Free. Consultora do podcast “Bichos na Escuta” do G1/Fantástico. Professora de comportamento animal no curso de pós-graduação da Universidade Tuiuti (PR).
Bem-Estar de Cães
Durante muitos anos, acreditava-se que para nossos cães viverem uma vida boa, usufruindo de bem-estar, bastava que fossem alimentados, protegidos e amados pelos humanos.
Por este motivo, o termo e as pesquisas sobre bem-estar eram mais utilizados quando se tratava de animais de laboratório ou que viviam em abrigos, sem receber tanto carinho e atenção quanto os cães de família.
Acreditamos que todos que convivem com cães desejam o melhor para eles, mas infelizmente esta não é a realidade da maioria dos animais. Reconhecer que atualmente formamos uma família multiespécie é o primeiro passo para entender que os cães precisam de adaptações nas nossas casas, rotinas e vidas. O fato de amarmos os cães como membros da família não pode ser confundido com a forma que lidamos com eles. Apesar de ocuparem um lugar parecido com o dos nossos filhos, cães são de outra espécie e por isso suas características e necessidades são diferentes das nossas.
Vamos pensar nesta situação: nós fazemos de tudo para deixar nossos filhos humanos limpos, cheirosos e protegidos, mas sabemos que cães detestam perfumes, excesso de banhos e que eles precisam explorar o ambiente para serem felizes. Considerando que esta exploração envolve farejar o chão, lamber urina de outros animais e até rolar na lama, muitos humanos impedem que seus cães apresentem estes comportamentos.
E é neste ponto que começamos a observar alguns problemas na forma de lidar. Conhecer e reconhecer que, por serem de uma espécie diferente da nossa, cães precisam de um estilo de vida adequado as suas necessidades é a melhor forma de compreendê-los e oferecer uma vida com bem-estar positivo.
Os sentidos dos cães, por exemplo, são MUITO diferentes dos nossos. Nós humanos, enxergamos o mundo com os olhos, já os cães, através do focinho, com seu super olfato. Uma casa muito limpa e perfumada, assim como perfumar o próprio corpo do cachorro pode interferir negativamente na forma que ele percebe e interage com o ambiente.
Além das necessidades básicas de saúde, nutrição, viver em um ambiente adequado e a possibilidade de expressar os comportamentos naturais da espécie (como cavar e roer, por exemplo), os animais também precisam experimentar emoções e sentimentos positivos e prazerosos para que possam viver em condição de bem-estar.
Para que eles sintam estas emoções, nós devemos lidar e nos comunicar com eles de forma respeitosa e empática. Durante muitos anos os cães foram tratados com truculência, sendo repreendidos quando exerciam algum comportamento indesejado, como roubar alimento da bancada da pia, por exemplo. Infelizmente esta era a maneira que (quase) todos os humanos usavam: dar uma bronca, colocar o cão de castigo ou até mesmo usar punição física. Atualmente sabemos que as técnicas punitivas não devem ser utilizadas porque, por mais que possam trazer algum resultado, tendem a causar danos emocionais graves nos animais.
Um cão se interessar por um alimento cheiroso na pia é absolutamente normal, nada mais natural do que ele tentar alcançar para comer. Quando entendemos esta situação pelo ponto de vista dele, fica claro que o animal não deve ser punido, nós é que devemos tomar cuidado e não deixar o alimento disponível. Assim como também devemos ensinar comportamentos alternativos (através de treinos divertidos) para redirecionarmos a atenção deles. Um exemplo é acostumar o cão a se alimentar através de desafios, como brinquedos recheáveis com alimentos especiais. Quando precisarmos redirigir sua atenção, oferecemos o brinquedo para que o cão fique focado, interessado. Dessa maneira ele fica satisfeito e não insiste em roubar nosso alimento.
Não é fácil avaliar de maneira objetiva as emoções que os animais vivenciam, afinal eles não se comunicam conosco na mesma língua que compreendemos.
Por este mesmo motivo, é um desafio definir se um animal está vivendo com uma boa qualidade de vida. Exigir que nossos cães enfrentem situações para as quais não foram preparados, como por exemplo conviver com outros animais, barulhos ou até mesmo com crianças pequenas, pode ser extremamente estressante e desafiador para eles. Cada família tem uma maneira de conviver com os animais, algumas mais inclusivas, outras menos.
É nosso papel, dos amantes dos cães, prepará-los para o estilo de vida que nós vamos oferecer para eles. Somos nós os responsáveis pela vida deles e devemos sempre nos esforçar para entender e respeitar suas características e limitações para que eles possam desfrutar de uma vida segura, saudável e de bem-estar.
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Rita Ericson
Médica-veterinária pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalha como clínica e comportamentalista de cães e gatos. Já trabalhou na SUIPA, no Hospital Veterinário Municipal Jorge Vaitsman e na VetClinic (Gávea – RJ). Mestrado em comportamento animal pela UFF com a tese sobre “Agressividade Canina”. Autora do site www.bichosaudavel.com. Apresenta boletins diários sobre saúde e comportamento de cães e gatos na Rádio JB FM (RJ). Consultora do Programa “Encontro com Fátima Bernardes”, desde 2014. Desenvolveu uma websérie para o GShow, com 19 episódios sobre cães e gatos. Autora dos livros “Latidos de Sabedoria” e “Miados de Sabedoria”. Pós-graduação em Etologia Clínica (Qualittas). Consultora da Unilever no desenvolvimento da linha Cafuné. Membro e fundadora do grupo TanatoVet. Certificada no Programa Fear Free. Consultora do podcast “Bichos na Escuta” do G1/Fantástico. Professora de comportamento animal no curso de pós-graduação da Universidade Tuiuti (PR).